Diário do Alentejo

"A demografia é o principal problema [da região], mas o turismo não pode ser visto como uma panaceia"

15 de abril 2023 - 09:30
Foto | DRFoto | DR

Três perguntas a José Manuel Santos, candidato à presidência da Entidade Regional do Turismo (ERT) do Alentejo e Ribatejo

 

Texto José Serrano

 

Qual a principal marca identitária da sua campanha?A ambição. Queremos que o turismo tenha um papel mais ativo na competitividade territorial do Alentejo. A missão da ERT não pode ficar pela organização da oferta e pela promoção turística, há que agir na envolvente de toda a cadeia de valor. Os problemas da região são, em larga medida, os problemas do turismo, nomeadamente, a escassez de mão-de-obra, o despovoamento, a falta de capacitação de gestão e a ausência de formação específica, a qualidade e cobertura das redes de transporte existentes, a [a anacrónica] conectividade digital, em algu- mas zonas, limitadora da competitividade empresarial. O turismo não conseguirá resolver estes problemas sozinho – precisamos de influenciar políticas e de chamar a atenção para o papel virtuoso do setor, perspetivando-o como um “arco de ligação” entre os setores de ativi- dade regionais.

 

Como classifica a capacidade do turismo em estancar a contínua perda populacional que o Alentejo apresenta?

A demografia é o principal problema [da região], mas o turismo não pode ser visto como uma panaceia. Mas é claro que, pela regeneração da população ativa, pode dar o seu contributo – implicando as comunidades nos processos de especialização turística dos territórios, através, por exemplo, da mobilização dos “saber-fazer”, da capacidade de aproveitamento do empreendedorismo jovem ou da valorização da importância das mulheres. Acredito que o turismo pode ganhar uma relevância acrescida na coesão social do Alentejo. No entanto, a revitalização demográfica depende igualmente da capacidade de atração de novos residentes. Temos previsto avançar com um programa inovador de lifestyle capaz de atrair os melhores talentos da hotelaria e do turismo, associando uma bolsa de empregabilidade e medidas concretas de fixação.

 

Qual a sua visão acerca do que deverão ser as valências do Aeroporto de Beja?

Nunca se concluiu, de forma clara, que modelo de aeroporto se pretendia para Beja, embora nos últimos tempos, a câmara municipal e a Cimbal [Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo], tenham promovido esforços importantes sobre esta questão. É essencial que este processo de reflexão prossiga, estendendo-se ao turismo. E Beja tem de jogar os seus trunfos, agora e no futuro. O turismo desempenhará sempre um papel relevante num modelo de afir- mação do aeroporto. Não há destino turístico que não almeje ter o seu próprio aeroporto – e nós temo-lo, com limitações que são conhecidas, mas também com pontos fortes que nem sempre são valorizados. Creio que se justifica uma reavaliação da estratégia de atração de companhias aéreas. O turismo alentejano não cresceu num modelo de aceleração que se previa há dez anos, mas há dinâmicas que são imparáveis e que podem, num prazo de três a cinco anos, vir a criar um destino turístico de relevo internacional. O turismo está a crescer e por isso não podemos retirar o aeroporto de Beja da equação do desenvolvimento do setor. Isso não seria inteligente.

 

 

Comentários